terça-feira, 11 de agosto de 2009

Dias dos Pais...

O dia dos Pais passou, para alguns uma mera data comercial, para outros um momento para estreitar os laços entre pais e filhos. Eu faço parte desse segundo pessoal, então deixo aqui a minha homenagem aquele que infelizmente não está aqui para receber meu saudoso abraço. A crônica abaixo foi postada aqui nesse blog em abril.

Meu pai era Santos, eu sou Corinthians, chamava-o de torcida da terceira idade, ele chamava-me de torcida de bandido, dizia-lhe que meu sonho era conhecer uma criança torcedora do Santos, ele dizia que seu sonho era conhecer um Corintiano que não fosse destinado a usar algemas. Assim íamos nós, um esculachando a paixão do outro.

Quando criança, cada vez que aprontava, ele fingia estar possuído pelo espírito do irmão gêmeo, que morrera no primeiro ano de vida, aliás, reza a lenda que seu nome na verdade era de seu irmão, mas como levou mais de um ano para ser registrado, ficou com o nome. Meu pai cresceu aprontando, tanto, que fugiu para cidade grande, jurado de morte, por assediar as mulheres dos outros, e aqui ganhou sua vida, e entregou parte dela também.

Meu pai era Zezinho de família, Carvalho pela vida, brasileiro convicto, do tipo que odeia a Argentina e tudo. Trazia com ele casos pitorescos, como a que acendeu um cigarro embaixo de uma chuva torrencial, para logo em seguida soltar um palavrão com raiva da vida, como se não soubesse que cigarro e chuva não combinam. Cabeça dura que sempre foi, era metido à eletricista, já o vi sendo arremessado do banheiro enquanto tentava consertar o chuveiro, claro! Sem desligar a chave geral, pois ele era homem cabra macho. Até hoje tenho pavor de corrente elétrica.

Estava integrado a sociedade “on”, tinha seu próprio note-book e com ele sempre jogava online, apesar de dar trabalho; Certa vez, ele teimara que não entrava internet, quando fui socorrê-lo, percebi que o problema era que havia aberto o site do UOL e não do Yahoo, como ele estava habituado, qualquer outro site que não fosse seu Yahoo, era um vírus para ele. Limpava a casa com roupa nova, Já com seu celular nunca saia rua, sempre o deixava em casa, como se quisesse protegê-lo, ligava a cobrar do orelhão mesmo, mas não se esquecia de carregar a bateria um único dia.

Gostava de carros, a pesar de nunca ter tirado carta, mas isso não o impediu em trabalhar por anos dirigindo por toda São Paulo, até já me levou consigo várias vezes, uma pobre criança, sem noção do perigo do qual representava o próprio pai ao volante, eu ia todo contente em sua Kombi amassada, por suas “leves” barbeiragens. Também adorava bater perna, onde tinha asfalto, lá estava ele, andando para baixo e para cima, andava mais que notícia ruim.

Como todo ser humano, tinha suas qualidades e defeitos, mas nenhuma dessas características, explica ter penhorado sua futura esposa na Praia Grande e voltado à São Paulo buscar o dinheiro para resgatá-la, junto ao hotel, que ficara confinada devido a dívida. Ainda bem que ele voltou para buscá-la, pois não estaria aqui escrevendo esse texto.

Ele se foi agora dia 1º de abril, uma verdade, que no dia da mentira foi duro de acreditar e deixou suas histórias, que causam saudades, afinal só as pessoas boas nos dão saudade. Agora uma coisa não sai da minha cabeça, tenho absoluta certeza que ele foi rindo da minha cara, com ar soberano, pois ele sabia que o Santos nunca perdera uma única final de campeonato para o Corinthians*.

* Alguns dias depois o Corinthians ganhou o campeonato paulista jogando a final contra o Santos.

2 comentários:

Lemos, Fernanda. disse...

Eu li quando você postou.
Excelente!

Beijos ;*

Anônimo disse...

Fique feliz e orgulhoso so seu pai pois ele te fez um homem de carater
eu também não tenho mais o meu mas sei que ele sempre me acompanha e olha por mim

Bjs